// January 30th, 2013 // 2 Comments » // Eventos, Oficina, SteamPunk
Dias 26 e 27 de janeiro do ano de dois mil e treze de nosso senhor Jesus Cristo, ficará marcado no calendário steamer nacional como o ano da descoberta exploratória steamer. A Loja São Paulo do Conselho SteamPunk tomou uma iniciativa memorável de organizar um belo evento steampunk naquelas redondezas. Tive a honra de representar a Loja Paraná do Conselho SteamPunk conhecendo, palestrando e participando de todas as atividades que lá ocorreram.
Paranapiacaba – uma cidade SteamPunk
Logo pela madrugada do dia 26, ingressei em um avião da linha Gol para o aeroporto de Congonhas em São Paulo que chegou dentro do horário, 07:20. Tomei um ônibus linha São Judas até a estação do mesmo nome, onde apanhei um metrô da linha azul com baldeação a linha vermelha, que por sua vez, fez baldeação com o trem que cerca de uma hora e meia de viagem. Este, nos deixa na pacata cidade de Rio Grande da Serra. Lá, enquanto aguardava o ônibus que me levaria a Paranapiacaba, conheci alguns steamers que se encontravam no ponto final aguardando o mesmo carro. Em meio a apresentações um deles já me conhecia do facebook e era fã do Capitão Escarlate. Dali seguimos por mais meia hora até o ponto final aonde chegamos em nosso destino: Paranapiacaba. Confesso que ao chegar na parte alta da cidade e avistando o pátio ferroviário, fiquei extasiado e sem palavras quando me deparei com aquela vista estonteante da parte da pequena e hospitaleira cidadezinha bem ao estilo inglês.
Relógio da Estação no pátio ferroviário de Paranapiacaba
Muitos trilhos de trem e uma bela torre de relógio nos transportavam no tempo enquanto descíamos a ladeira e atravessávamos uma linda e estonteante ponte antiga. Uma pequena pausa para um lanche porque como diz o ditado “ninguém é de ferro” e por conta de uma chuva que caia, lembrando as serras de minha terra o Paraná. Dali, seguimos para nossa pousada a Shamballah, onde recepcionados pela eficiente gerente, nos abrigamos momentaneamente. Também fui agraciado e recepcionado calorosamente pelos amigos steamers paulistanos e organizadores do evento: Cândido Ruiz, sua simpática companheira Adriana Cabral, o Fernão de Quintana Le Forge, Fiori Bazarello Caires e a querida Bruna Caroline. O casarão foi construído entre 1897 e 1901, ele respira o século retrasado e é inevitável não imaginar que ali dormiam a família de um dos engenheiros ingleses da empresa ferroviária. Agora, vestido a caráter, seguimos para o Clube União Lyra Serrano onde se centralizariam a maioria das atividades.
Clube União Lyra Serrano reformado pela Prefeitura de Santo André
O Clube Lyra por sinal, outro belo monumento estilo inglês que faz jus a sua fama. Local de entretenimento dos moradores daquela vila no período de 1867, está totalmente preservado como na época e ainda expõe a linda bilheteria daquele período e ainda preserva sua natureza. Irresistível não tirarmos várias fotografias por ali. Foi com grata surpresa que reencontrei outro steamer o Álvaro Domingues, também conhecido por “pai nerd”, autor do livro Sombras e Sonhos, que costumo encontrar no Fantasticon em São Paulo.
A irresistível bilheteria do clube Lyra
Aos poucos, vários steamers foram chegando e em meio a tantas apresentações, gente conhecida, ou até ali, totalmente estranhas foram se aproximando e à medida que o papo crescia, cresciam também as afinidades, pois afinal de contas, ficava evidente o mesmo gosto que reinava a flor da pele. Todos se apreciavam e trocavam novidades sobre steampunk e principalmente suas emoções iniciais daquela bela Paranapiacaba. Vários fotógrafos já de plantão nos procuravam para obter suas fotografias, repórteres conjeturados com a beleza estética do steampunk que mesmo sem entender direito o que viam, corriam afobados a nos entrevistar ainda estupefatos com a estética diferenciada. Como não ficar? Combinávamos muito mais com aquele lugar do que os meross mortais civis que habitavam por ali.
Steamers na escadaria posando para repórteres fotográficos
Mas os habitantes também estavam eufóricos com nossa presença e ouvi de alguns moradores e comerciantes que topariam vestir-se de acordo com a época vitoriana, se continuássemos a realizar tais eventos. A simpática cantina do Clube Lyra, também conhecida por “Café Bar do Lyra”, satisfazia a pequena fome entre as refeições dos transeuntes turistas, comum todos os fins de semana por ali, que com enormes olhos tentavam disfarçar seu vislumbre com nossa presença.
Névoa (fog) penetrando pelas janelas do Café Bar do Lyra
Alguns não resistiam, os mais corajosos e questionavam ou solicitavam tirar fotos com a gente para provar o que viram quando mencionassem a seus amigos os parentes. Vá ver, nossas imagens estão por ai, perdidas pelo Facebook, Orkut ou outras comunidades sociais digitais.
Um casal singular que reconheci por lá e que me impressionaram com sua idéia steam original, ele um tenente e ela o capitão de um submarino steampunk, possivelmente aquele que está ancorado no Museu do Porto do Rio de Janeiro. Parabéns pela ideia.
Casal de comandantes do Submarino SteamPunk
Chega o horário do almoço e todos são convidados a irem juntos em uníssono para o Restaurante Castelinho, onde nos aguardava uma gostosa comida caseira bem ao estilo interiorano. Depois da ceia farta e de mais trocas sobre conhecimentos steamers com o grupo de Campinas – que abrilhantou sobremaneira o SteamCon, fomos convidados a realizar um passeio molhado (com capas plásticas gentilmente cedidas pela prefeitura local), acompanhados de um guia especializado na região que não apenas conhecia fisicamente o local, mas também as lendas urbanas que acompanhavam os moradores desde os séculos que se seguiram, até os tempos atuais. Fantasmas (poltergeist) e aportes (sons de batida na madeira que respondem), eram apenas algumas das lendas locais que aguardam curiosos pesquisadores do insólito a serem pesquisados de forma séria, como o foram em séculos passados em cidades londrinas.
Lendas urbanas que assolam lugares como o cemitério da região de Paranapiacaba
foto da steamer de Campinas Débora Puppetmissing
Retornando ao Clube Lira, um pouco mais do fog londrino adentrava o recinto mexendo com a imaginação dos presentes que corriam a tirar fotos da névoa ou brincavam com outros grupos que se aproximavam dizendo com voz firme: “- Alto lá, quem se aproxima?” e em seguida solicitavam uma senha, o que arrancava – fosse de quem fosse, uma gostosa gargalhada sem par.
Linda fotografia da steamer de Campinas Débora Puppetmissing
Uma atração a parte para os curiosos steamers foi a mesa do clarividente steamer que trouxe lindas cartas de tarô SteamPunk, onde realizou algumas sessões de leitura, prática que já desempenha há alguns anos. Seu steamplay, bem como o de sua companheira, estava de fino trato e acompanhava o vislumbre de todo o evento.
Steamer do Tarô SteamPunk e um de seus clientes
Depois do passeio turístico e cultural e enquanto aguardamos a palestra que viria, todos os presentes foram convidados a assistir na tela de cinema do Clube Lyra, ao filme “O Grande Golpe”. Após o filme, inicia a aguardada palestra de Gian Paolo Celli, editor da Tarja Editorial, leitor hard e também escritor, que esclareceu como um escritor deve escrever e como agradar um editor, ele pelo menos. Sua palestra foi rica em detalhes esmerando os problemas que editores costumam enfrentar principalmente com escritores de primeira viagem que insistem em acreditar que seus escritos são sempre perfeitos ou beiram a primazia. Deixou clara a importância de um leitor beta e a esperada humildade que um escritor deve ter, para tentar se “dar bem” em um mar de escritores que atualmente se propõe. Ao final da excelente palestra, clara e transparente o editor estendeu um convite em seu nome e de seu sócio que também estava presente, a todos os escritores presentes que enviem seus ensaios ou projetos para o estudo da Tarja editorial.
Gian Paolo Celli, editor da Tarja Editorial que publicou SteamPunk: viagem a um passado extraordinário
Após a palestra novamente nos dirigimos ao Castelinho para degustarmos o jantar tão almejado. Ato contínuo, retornando às pousadas, todos se aprontaram para o Baile de Máscaras que contou com a participação especial de um mago steamer que nos presenteou com vários truques de salão.
O Mago Steam e seus truques fantásticos entretendo os convidados do Baile de Máscaras
Mas com o advento da madrugada vem o sonho de Moebius, também conhecido por João Pestana e que ali caia muito bem. Dominou a todos e nos levou para seu reino dos sonhos.
O domingo amanheceu cheio de esperanças, pois a curiosidade rolava solta para saber o que viria em seguida. Após um gostoso café matinal e de banho tomado, com outras vestes steam voltamos ao Clube Lira onde todos foram novamente convidados a realizar novo passeio pela cidade, agora sem chuva, o que permitia acesso a lugares não alcançados no dia anterior. Inicialmente conhecemos o Museu Castelinho de onde o engenheiro-chefe da empresa SPR São Paulo Raiway Co., vislumbrava seus trabalhadores. O filosofo Michel Foucault autor da obra muito conhecida nos meios acadêmicos “Vigiar e Punir”, iria adorar estudar aquela estrutura controladora pensada por ingleses em pleno solo tupiniquim.
Castelino – Fotografia cedida por Vahmp E Andy Aradia do grupo Air Ship Príncipe Negro de São Paulo
O Castelinho ficava na colina mais alta, lembrando dignamente em proximidade os casarões de filmes de terror. Várias peças chamam a atenção, inclusive uma maquete de toda a região, mas nada espantou mais a todos do que as botas chumbadas de um mergulhador do início daquele século que usava um escafandro em plena Serra. Sim, era necessário uma roupa daquele tipo para quando as pontes de trens fossem construídas em rios profundos. Um artigo interessante sem dúvida que se destacava dos demais. Outra curiosidade alertada pelo guia daquele dia eram os números de relógios que apesar de serem romanos, ou seja, apresentarem-se como “IV” apresentavam-se como “IIII”. Isso porque os operários tinham dificuldade em entender o número quatro de forma romana.
No caminho para o pátio da ferrovia, depois de mais fotografias na escadaria do lugar, conhecemos o Antigo Mercado totalmente reformado e preservado pela Prefeitura de Santo André, responsável por toda a região de Paranapiacaba, mantendo suas características originais, hoje um centro multicultural.
Pátio ferroviário de Paranapiacaba – mundo paralelo SteamPunk
Dali, seguimos para o pátio ferroviário onde está localizado o Museu Tecnológico Ferroviário daquela bela cidade que ficava abaixo da ponte já descrita na entrada da vila. Lá, compramos pequenas latas decorativas contendo apetitosos biscoitos (cookes), doces feitos de acordo com antigas receitas inglesas, para ajudar a entidade que atualmente cuida da preservação daquele lugar steam, a SPR-Paranap (Sociedade de Preservação e Resgate de Paranapiacaba). No museu conhecemos o senhor Joel, um dos responsáveis pelo local que estava vestido de acordo com o lugar, quase um steamer. Gostou de saber que todos nós apreciávamos o vapor e entendeu de primeira quando dissemos a ele que éramos de um grupo SteamPunk.
No Museu conhecemos a máquina funicular que permitia ás máquinas e vagões serem guinchados e atraídos para o local certo a serem consertadas, verificadas ou trocadas. Tudo funcionava com um sistema de cabos e alguns motores.
Explicação sobre o processo funicular da ferrovia aos steamers atentos por cultura
Estava difícil sairmos daquele lugar, pois existiam muitos “cenários steam” que renderam algumas fotos, mas poderiam com mais tempo render muito mais. Parecia que estávamos realmente em um mundo paralelo.
Grupo steamer de Campinas fazendo irresistível pequeno ensaio fotográfico steamer
Portanto um pouco a contragosto, voltamos para o clube Lyra para prosseguirmos com as atividades do evento. Fui convidado a participar do concurso de steamplay que ocorreria em seguida. Como geralmente não participo de concursos por promovê-los, achei pertinente participar deste. Todos os interessados receberam um número de inscrição e depois se apresentaram no palco do Lyra. Como os candidatos estavam realmente supimpas e pensando que não teria chances estava fotografando um distinto casal vitoriano na parte superior do clube quando fomos surpreendidos por gritos me chamando.
Distinto casal vitoriano presente ao STEAMCON 2013 – Paranapiacaba
Eu havia ganho na categoria masculino. Depois soube que não era apenas a vestimenta que iria ser julgada, mas “todo o conjunto da obra”, como nos comportamos e agimos com relação ao SteamPunk. Ainda assim, penso que outros amigos lá presentes também o mereciam. De qualquer forma, agradeço imensamente o apoio e a consideração que me foi dada. O prêmio é uma miniatura de um dragão do mineiro e artista plástico William Morais, patrocinado pela loja Belladonna de Belo Horizonte.
Na oficina de luta de cavalheiros ministrada pelos competentes steamers Cândido Ruiz e Fernão de Quintana Le Forge, praticamente todos os participantes estavam presentes. As demonstrações e interesses eram deveras interessantes e relevantes, inclusive sintonizados com a realidade atual em que vivemos. Demonstrar maneiras de defender-se usando a bengala e bastões ingleses específicos para essa empreitada foi o auge do momento. Muitos queriam sentir o gosto da defesa pessoal daquele século, inclusive o pai nerd que também estava por lá (http://blogdopainerd.blogspot.com.br/2013/01/viagem-no-tempo-dois-dias-em-mergulhado.html?spref=fb).
O Mago Steam mais uma vez fez sua aparição, agora no palco do Clube União Lyra Serrano. Outro show memorável que ficará na imaginação de muitos steamers.
Em seguida algumas despedidas, pois o horário avançava e para os que ficaram enriqueceram-se com minha palestra sobre o andamento dos trabalhos de nossa Loja no Paraná e em Santa Catarina. Alguns elementos da platéia eram moradores da região e puderam prestigiar o evento até seu último minuto. Para um encerramento memorável de um evento deste porte e devido à chuva fina que caia em intervalos regulares, o grupo Picnic Vitoriano de São Paulo, convidado especial para a ocasião, realizou seu habitual picnic no hall de entrada do clube Lyra. Visual estonteante dos participantes e guloseimas de tirar o chapéu.
Foi um belo encerramento proporcionado pela Loja São Paulo do Conselho SteamPunk com a participação de vários grupos como a Loja Paraná, o Picnic Vitoriano São Paulo, o grupo Airship Príncipe Negro e o grupo Full Steam de Campinas. Foi muito bom rever os amigos steamers Débora Puppetmissing e o casal Vahmp e Andy Aradia e conhecer novos e queridos steamers.
Para tanto só nos resta parabenizar todos os integrantes da Loja São Paulo do Conselho SteamPunk que, como nós, enxerga além do horizonte quando tenta resgatar a memória de nosso país que ameaça ser esquecida por gerações futuras. Fica evidente que a realização do STEAMCON 2013 em Paranapiacaba provou ser o local SteamPunk mais propício para a realização de futuros eventos daquela loja, pois preservar o passado é importante para entender o presente e garantir um futuro promissor de nossa nação. Esse deve ser o lema dos steamers brasileiros, ou como costumamos encerrar:
“Fogo na caldeira e asas a imaginação steamers”
Loja Paraná do Conselho SteamPunk